domingo, 18 de agosto de 2013

Pode vir

Por Elisa Estronioli
Você pode vir com suas facas e seus espelhos
Você pode vir com seus grilhões e sua serpente
Você pode vir com sua máquina e suas correntes
Você pode vir com mil nervos despedaçados

Você pode vir com suas botas encouraçadas
Você pode vir com seus dentes todos à mostra
Você pode vir com seu alforje cheio de pedras
Você pode vir com paus, poemas e perdas

Eu te espero com sete bandeiras desfraldadas
Eu te espero com fome, sede, fogo e lágrimas
Eu te espero com barro sob as unhas quebradas

Eu te espero, porque não há mais refúgio
Na noite úmida e sem estrelas.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Coragem

Por Elisa Estronioli
É preciso ter coragem pra pegar em armas
Mais coragem é preciso pra baixar as armas

É preciso ter coragem no escuro
Mais coragem é preciso à luz do sol

É preciso ter coragem na multidão
Mais coragem é preciso olho a olho

É preciso ter coragem na véspera
Mais coragem é preciso na manhã seguinte

É preciso ter coragem de falar
Mais coragem é preciso pra ouvir

É preciso ter coragem de ferir
Mais coragem é preciso pra curar

É preciso coragem de fechar
Mais coragem é preciso pra abrir

É preciso ter coragem de sorrir
Mais coragem é preciso pra chorar

É preciso ter coragem
Porque não nos deram outra opção
Nem nos deram tempo de não ter coragem.

Disse o guerrilheiro atrás das grades
Indiferente à dor, a proclamar a liberdade,
É preciso não ter medo, é preciso ter coragem!

(Mas, ainda sim, é preciso ter coragem pra ter medo.)

Primeiro Sarau de Poesias Marginais: “Na Quebrada Escorre Versos!”

Por Coletivo de Poetas Marginais

Altamira, 14 de agosto de 2013.


No ultimo dia 09 de agosto (sexta-feira), realizamos a segunda atividade do Coletivo de Poetas Marginais de Altamira. O evento foi o primeiro Sarau de Poesias Marginais no bairro Boa Esperança, na periferia da cidade. É importante destacar que esse bairro será atingido pela barragem de Belo Monte por ocasião da formação do lago, e que as condições de saneamento básico (água potável, rede de esgoto, coleta de lixo, etc.) praticamente inexistem. E foi exatamente nesse bairro que realizamos nosso evento com o objetivo principal de levar até essa população uma experiência inovadora no campo da poesia e da musica.

O evento foi um sucesso, a comunidade participou de forma direta do sarau contribuindo com a organização do espaço – o evento foi realizado na rua –, com um gostoso lanche e diretamente leitura e declamação dos poemas e das musicas cantadas. Esse sarau teve uma diferença importante em relação ao primeiro evento – primeiro encontro de poetas marginais – que realizamos em julho no bairro Aparecida. Diferentemente da primeira atividade do coletivo esse sarau teve a participação direta do povo pobre da periferia, que no seu dia-a-dia não tem contato com esse tipo de experiência.
O evento foi regado a muita musica, poesia e a genuína alegria das crianças que ouviam as musicas, liam poesias e corriam pra lá e pra cá levantando poeira da rua sem calçamento. Aproximadamente umas 40 pessoas estiveram presentes no evento, tanto moradores do bairro Boa Esperança quanto moradores de outros bairros, mas é importante ressaltar a ausência de vários militantes que por algum motivo não têm prestigiado os eventos.
No encerramento do sarau foi distribuí aos participantes um livro de poesias da escritora Sônia Portugal. Foi lindo de ser ver as pessoas empolgadas com o presente, pois levavam nas mão a concretude do que foi o evento.

Apesar das dificuldades realizamos uma bela atividade cultural, que, tenho certeza, foi de extrema importância para o povo daquela comunidade. Pra eles uma primeira experiência que deverá ter continuidade e pra nós, do coletivo, um desafio no qual estamos nos lançando de cabeça, corpo e poesia, mas sempre marginais.